É que a história da UERGS ainda
não foi contada toda. Uma das versões diz que a UERGS foi criada com dois
objetivos. Primeiro, conceder diplomas gratuitos a rodo, de modo a liquidar o
mercado de ensino particular. Segundo, organizar, através de cursos de
pedagogia com currículos de sociologia, os movimentos populares como o MST, em
regiões em que essa organização era fraca. Como reação, esse projeto logo
encontrou a alternativa oferecida por políticos entre os quais os dois últimos
vice-governadores: é "mais barato" dar bolsas de estudos para que
os alunos carentes estudem nas universidades particulares. Daí por diante a
disputa tornou-se a do Santo Guerreiro contra o Dragão da Maldade.
Essa versão dos fatos explica
porque, uma cidade em que o ensino particular já realizou grandes
investimentos, sede de um município com área rural de potencial conflito social
e que, além disso, guarda especial rancor do governo que criou a UERGS por ter
abortado a vinda da Ford, custe a entender a importância do curso de ESD.
Universidade petista? Chips? O que é isso?
Com a derrota do PT na eleição
de 2002, o governo Rigotto cuidou de demitir 90% dos professores alegando que o
concurso fora frio. A seguir o PT abandonou seu projeto para a UERGS, fosse ele
qual fosse, ainda mais que ficou ocupado com o Mensalão. Hoje é difícil
encontrar quem defenda a UERGS dentro do PT. O governo PSDB aponta o arpão para
o golpe de misericórdia: esvaziar os cursos de formação cara, como o nosso de
ESD, asfixiando-os pela falta de vestibulares, e transferir os alunos dos
cursos de custo baixo para o ensino particular, com bolsas baratas.
Só que essa é uma parte
da história. O que falta dizer é que, no tempo da criação da UERGS, havia
pessoas no próprio PT que almejavam uma universidade tecnológica para fomentar
a economia do Estado, exatamente em áreas de tecnologia em que o ensino
particular não queria investir; tratava-se de pioneirismo, não de concorrência
com o ensino particular. Essas pessoas eram minoria, mas depois que os cursos
de pedagogia se tinham instalado, tiveram permissão de realizar sua
intenção. Elas planejaram o curso de energia de Novo Hamburgo e o de ESD de
Guaíba, o único na América Latina a dar formação simultânea em computação
e micro-eletrônica. . Esses cursos só começaram em agosto de 2002, seis meses
após os outros. Na contratação dos professores não prevaleceram indicações
partidárias: nenhum dos professores de Guaíba tinha qualquer vínculo com o PT.
É preciso que a comunidade se dê conta do que está acontecendo: estamos perdendo a oportunidade de construir, neste lado da cá do Lago, o corredor de indústria informática de que o Brasil mais necessita. Se a história não for entendida e se a bandeira do curso de Engenharia em Sistemas Digitais não for empunhada como bandeira supra-partidária, a geração desta década arrisca passar à história do Município como aquela que terá trocado uma universidade por dois presídios.
Roberto Ribeiro Baldino
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