domingo, 11 de maio de 2008

O silêncio fala mais alto

Quando os movimentos políticos são fracos nenhuma ausência ganha destaque especial. Mas numa reunião com presença de um deputado estadual, do prefeito do Município, de 8 representantes de associações da sociedade civil e de 5 representantes de parlamentares, certas ausências são como verdadeiros brados entre as cem pessoas do plenário. Assim foram notadas, na Audiência Pública da Subcomissão de Educação da Assembléia Legislativa, realizada na última sexta feira no CTG Gomes Jardim, as ausências da ACIGUA e do SINDILOJAS. Essas ausências precisam ser entendidas porque se tratam de entidades de grande representatividade, capazes de decidir a sorte do Curso de Engenharia em Sistemas Digitais (ESD) da UERGS, esse curso de onde os alunos saem com salários iniciais de 8 mil reais...

É que a história da UERGS ainda
não foi contada toda. Uma das versões diz que a UERGS foi criada com dois
objetivos. Primeiro, conceder diplomas gratuitos a rodo, de modo a liquidar o
mercado de ensino particular. Segundo, organizar, através de cursos de
pedagogia com currículos de sociologia, os movimentos populares como o MST, em
regiões em que essa organização era fraca. Como reação, esse projeto logo
encontrou a alternativa oferecida por políticos entre os quais os dois últimos
vice-governadores: é "mais barato" dar bolsas de estudos para que
os alunos carentes estudem nas universidades particulares. Daí por diante a
disputa tornou-se a do Santo Guerreiro contra o Dragão da Maldade.

Essa versão dos fatos explica
porque, uma cidade em que o ensino particular já realizou grandes
investimentos, sede de um município com área rural de potencial conflito social
e que, além disso, guarda especial rancor do governo que criou a UERGS por ter
abortado a vinda da Ford, custe a entender a importância do curso de ESD.
Universidade petista? Chips? O que é isso?

Com a derrota do PT na eleição
de 2002, o governo Rigotto cuidou de demitir 90% dos professores alegando que o
concurso fora frio. A seguir o PT abandonou seu projeto para a UERGS, fosse ele
qual fosse, ainda mais que ficou ocupado com o Mensalão. Hoje é difícil
encontrar quem defenda a UERGS dentro do PT. O governo PSDB aponta o arpão para
o golpe de misericórdia: esvaziar os cursos de formação cara, como o nosso de
ESD, asfixiando-os pela falta de vestibulares, e transferir os alunos dos
cursos de custo baixo para o ensino particular, com bolsas baratas.

Só que essa é uma parte
da história. O que falta dizer é que, no tempo da criação da UERGS, havia
pessoas no próprio PT que almejavam uma universidade tecnológica para fomentar
a economia do Estado, exatamente em áreas de tecnologia em que o ensino
particular não queria investir; tratava-se de pioneirismo, não de concorrência
com o ensino particular. Essas pessoas eram minoria, mas depois que os cursos
de pedagogia se tinham instalado, tiveram permissão de realizar sua
intenção. Elas planejaram o curso de energia de Novo Hamburgo e o de ESD de
Guaíba, o único na América Latina a dar formação simultânea em computação
e micro-eletrônica
. . Esses cursos só começaram em agosto de 2002, seis meses
após os outros. Na contratação dos professores não prevaleceram indicações
partidárias: nenhum dos professores de Guaíba tinha qualquer vínculo com o PT.

É preciso que a comunidade se dê conta do que está acontecendo: estamos perdendo a oportunidade de construir, neste lado da cá do Lago, o corredor de indústria informática de que o Brasil mais necessita. Se a história não for entendida e se a bandeira do curso de Engenharia em Sistemas Digitais não for empunhada como bandeira supra-partidária, a geração desta década arrisca passar à história do Município como aquela que terá trocado uma universidade por dois presídios.

Roberto Ribeiro Baldino

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